sábado, 31 de agosto de 2013

Expressão

Falo, falo, falo. Discuto, canto, grito, choro, esbarro em coisas, ronca minha barriga de fome, também ela faz barulho na digestão. Sou toda barulho. Toda voz e expressão. Até minha escrita é barulhenta, ainda que sempre em caixa baixa. Barulhenta, barulhenta.
Mas ele, quase sempre calado, ouve.
Quando desabafo e peço conselhos: silêncio. Eu me irrito. Ele, silêncio. Chego a duvidar do que sente e se sente. Procuro no olhar e mesmo seus olhos me dão a mesma resposta... muda.
Mas, quieto como um panda, ele responde sem palavras. É o almoço, a pipoca, o suco, o chá, o cuidado quando desmonto. É Bem-te-vi caído do ninho. São observações das estrelas. É roupa com cheiro de vinagre. É preocupação tão paterna com as gatas e são os gatinhos que duas delas confiaram nele para ajudar colocar no mundo.
Eu, que já ouvi tanta mentira, deveria ver o tamanho da minha injustiça: talvez tanta doçura não seja mesmo para se expressar com palavras.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Tarde demais, longe demais

Já ouvi tudo isso e mais de uma vez. Muitas outras antes de mim também. Outras tantas comigo. E já me convenci algumas vezes no passado. Mas não mais, não mais. Talvez tivesse que estar mais empenhado para parecer convincente, porque nem sou tão tonta quanto pareço... mas já fui. Quando tudo o que se encontra é ruína, só resta mesmo chutar as pedras.

domingo, 11 de agosto de 2013

Do que não fizemos

     Não gosto de datas comemorativas porque são comerciais, incentivos para as compras e nada mais. Mas é muito difícil fugir de seus apelos afetivos e sempre lembramos daqueles que se foram e como se foram. Algumas partidas são aceitáveis, resignamo-nos e entendemos que não havia o que pudesse ser feito. É mais fácil aceitar o que parece inevitável, maior e mais forte que a vontade humana. Difícil é aceitar escolhas e entendê-las. Talvez eu nunca entenda. Talvez eu nunca aceite.
      Talvez eu entenda. Mas acho que nunca vou aceitar. Simplesmente porque fechamos os olhos para um sofrimento mudo. Mas existe um sofrimento tão mudo a ponto de passar tão desapercebido? Se não ouvimos, por que não olhamos com atenção?
     É que não é aceitável. Quantas coisas que eu disse. Quantas coisas que eu deveria ter dito e não disse. Agora não adianta dizer qualquer coisa: ossos não ouvem, ossos não leem. E quantas vezes me impacientei? Quantas vezes me revoltei? Qual foi o valor que nós demos? Todos nós. Não entendemos seus pontos de vista, não entendemos sua geração. E ignoramos sua dor.
     E o que cada um de nós aprendeu com seus exemplos? O que cada um de nós aprendeu com sua partida? O que fizemos para que quisesse partir? O que resta é tudo que não fizemos para que ficasse. 

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Bobinha... só que não!

Quando algo me incomoda, sempre tenho razão. Aquele sentimento estranho, que parece cutucar e eu tento afastar, mas fica ali sinalizando que algo está errado e somente um enorme medo de estar sendo injusta me faz querer acreditar que tudo isso não passa de bobagem. Talvez bobagem seja não confiar na minha própria sensibilidade.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Sem rédeas

Disseram-me que sou como uma égua xucra. Respondi que sou pior: a mim, ninguém me doma.