sábado, 31 de agosto de 2013

Expressão

Falo, falo, falo. Discuto, canto, grito, choro, esbarro em coisas, ronca minha barriga de fome, também ela faz barulho na digestão. Sou toda barulho. Toda voz e expressão. Até minha escrita é barulhenta, ainda que sempre em caixa baixa. Barulhenta, barulhenta.
Mas ele, quase sempre calado, ouve.
Quando desabafo e peço conselhos: silêncio. Eu me irrito. Ele, silêncio. Chego a duvidar do que sente e se sente. Procuro no olhar e mesmo seus olhos me dão a mesma resposta... muda.
Mas, quieto como um panda, ele responde sem palavras. É o almoço, a pipoca, o suco, o chá, o cuidado quando desmonto. É Bem-te-vi caído do ninho. São observações das estrelas. É roupa com cheiro de vinagre. É preocupação tão paterna com as gatas e são os gatinhos que duas delas confiaram nele para ajudar colocar no mundo.
Eu, que já ouvi tanta mentira, deveria ver o tamanho da minha injustiça: talvez tanta doçura não seja mesmo para se expressar com palavras.