quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Excursão

Quando eu tinha 13 anos, fui a uma excursão com a escola. Era e é uma escola de periferia, com falta de professorxs, carteiras mal cuidadas, escura como um presídio e um puxadinho que já foi de lata, mas já era de alvenaria havia uns dois anos. Alguém teve a ideia de jerico de implantar "sala ambiente" e nós, xs alunxs, ficávamos correndo de uma sala desequipada para outra igualmente desequipada, então todxs meio que se conheciam. O puxadinho costumava ficar vago quando algum/a professor/a faltava e era para lá que eu ia passar o tempo da aula vaga. Eu ia para cantar e sempre ia alguém ouvir.
Mas eu queria falar da excursão. Não lembro quantos ônibus foram, mas acho que só dois, mesmo sendo só o custo do transporte. Como sempre, aquele auê, aquela gritaria, aquela balbúrdia no ônibus até geral resolver cantar qualquer música da moda, tudo gritando, mais pela algazarra socializante do que pela música em si. Mas então que uma colega de classe, sobrinha neta de um ator famoso e moça bonita de traços marcantes, resolveu que, se alguém ali tinha que cantar, então que fosse eu. E eu, mirradinha, encolhidinha atrás dos óculos e dentro das roupas largas, atendi o pedido da colega. A molecada foi se calando na medida em que eu impostava a voz, até que a maioria ouvia atenta e aplaudiu e exclamou sua satisfação antes de voltar a fazer auê, gritaria e balbúrdia.
Esse foi um dos dias mais mágicos de toda a minha vida e que vou guardar para sempre no coração e na memória. Mas não sei bem o motivo de estar escrevendo isso agora. Talvez por estar sentindo a minha geração muito seca e dura, sem sonhos? Pois digo que vale a pena sonhar e apostar na magia. Viver o aqui e o agora é bom, mas só o sonho e a magia dentro de um coração que se recusa a endurecer podem fazer do aqui e do agora muito maiores e melhores.

Postado no facebook e trazido para cá para não se perder.