sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Juiz-penitente

Queria conversar com alguém, mas não acho que qualquer das pessoas acordadas estivesse disposta a discutir questões existenciais. Mas o Albert, ah, o Albert já deixou seus monólogos prontos, porque o que são a maioria das conversas além de monólogos que se entremeiam uns nos outros? Embaixo do seu guarda-chuva, de braços dados, seguro a manga de seu sobretudo impregnado de cigarro e perfume francês.
"Para ser feliz, é preciso não se envolver demais com os outros." - disse Albert. Na verdade, não disse senão pela boca de seu juiz-penitente em "A queda". Mas aceito a lição mesmo assim.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Ela escolheu confiar na vida. Eu também, mas não consigo.

Ganhei um livro espírita, desses psicografados. Li muitos desses entre meus 10 e 15 anos, e eles ajudaram muito na minha formação moral. Tipo, fazia mais de 15 anos que eu não lia um livro desses, não por nada, mas porque outros foram caindo da minha mão, e agora ganhei um da Zíbia de Natal. Não vou falar da qualidade literária do livro, até quando criança eu sabia que livro espírita não se pretende artístico, mas edificante ao trazer histórias reais e isso me bastava. Bastava porque eu acreditava na veracidade dessas histórias. Eu já era uma criança "chata", contestadora, mas tinha muita fé. O tempo, minha própria personalidade problematizadora, as leituras e minhas vivências acabaram matando essa fé. E acho isso triste. Não que eu seja ateia, acho que agnóstica seria mais apropriado, pois não afirmo nem nego nada: apenas não sei. E eu sempre fui médium, mas agora acho aceitável que tudo que vi/vejo, senti/sinto e ouvi/ouço seja alucinação. Espíritos ou alucinação: não sei, não sou capaz de afirmar ou negar uma coisa ou outra. Não sei. Mas eu me sentia melhor e mais segura quando tinha fé. Queria muito ter fé de novo, pena que é o tipo de coisa que não dá para forçar: ou a pessoa tem ou não tem. E eu não tenho agora.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Fora do lugar

Sinto como se fizesse parte de um brinquedo que quebrou, alguém consertou e eu fosse exatamente aquela pecinha que ninguém sabe como colocar de volta, nem para que serve.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Trato

Mais um dia. Um novo dia. Quando se tem tanta dificuldade de levantar, dificuldade de apenas ser e é preciso se dar uma nova chance todos os dias, pequenos tratos são firmados: "você consegue fazer isso hoje? Apenas isso e já é mais do que ontem". Um esforcinho a mais por dia.

Zeus

Protegida, escuto a chuva e o estrondo do trovão. Não temo os raios, minha esperança é que algum ainda venha me buscar.

sábado, 14 de janeiro de 2017

Man rennt

Poderia ter feito dele um homem como nunca mais terá a oportunidade de ser. Sabendo disso, teve medo e fugiu.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Ideias confusas

A vida e a morte são coisas confusas na cabeça das pessoas: querem matar quem quer viver, querem obrigar a viver quem quer morrer, enxergam vida onde nem tem, pouco se importam com o fim de vidas reais.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Inércia

Todos os dias é o último dia, acordo pensando: meu Deus, por quê? Todos os dias arrastados, empurrados, e o último torna-se apenas mais um. Continuo por inércia, desanimada até para desistir.

"Inertia – no wish to think at all
Inertia – everthing’s a stone wall
Inertia – history lets you die"
Inertia, Bruce Dickinson

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Não alimente os monstros

Os antigos monstros embaixo da cama não se tornaram menos cruéis e assustadores porque eu cresci. Continuam iguais, quando deveriam ter desaparecido para sempre. Causam a mesma dor, só que pior: causam vergonha. Vergonha por continuar acreditando em monstros... quando deveriam ter desaparecido. E para sempre.