quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Autoimagem

Não sei como ou quando embruteci. Conta minha mãe que eu era uma criança delicada nas maneiras e na postura, mas lembro de mim bruta e despótica, justa como a pax romana desde sempre. Eu que batia nos meninos, mas recebia cartinhas deles. Eu que chorava e brigava por causa de formigas pisadas e plantas quebradas. Eu que não brincava de qualquer coisa não. Eu que fugia de abraços e fotos em festinhas de aniversário.
Tento resgatar agora a tal delicadeza de que não me lembro.
Ou talvez... poucas vezes me machuquei, meus brinquedos sempre pareciam muito novos mesmo sendo velhos e muito usados. O que além de delicadeza explica tanta conservação? E se as crianças me sorriem na rua, de onde me vem a consciência de brutalidade? Por ter brigado, brigar e saber que continuarei brigando e, por isso, assim de bruta sou chamada? Ora, pois sim!
Que nunca a delicadeza de minha alma permita que outros me sejam brutos sem que eu venha a revidar.