quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Tântalo

Você continua porque acha que pode melhorar, mas não melhora. São monólogos, silêncios a dois em uma busca de encontro que apenas afasta.
Você diz tudo o que sente, tudo o que espera, tudo o que falta, mas diz isso tudo para ninguém porque não há mudanças.
Você telefona na esperança de uma aproximação... adeus.

sábado, 26 de outubro de 2013

Sublimação

     Não, eu não sinto falta de quem deixei para trás. Talvez demore para conseguir esquecer seus traços e marcas, mas nunca poderão me acusar de sentir saudades agora.
     Não sinto sua falta, mas sinto muito a falta do que eu sentia... e era tanto! Aquele desejo que me fazia decidida, destemida, capaz de enfrentar o mundo, trabalhar como nunca, estudar como se não trabalhasse, não me cansar jamais e, se fosse preciso, ainda ser capaz de passar noites em claro no ardor de tanto e tanto querer.
     É, queria sentir com a mesma intensidade outra vez. Mais do isso: nada me satisfaria mais do que, novamente, ser capaz de despertar tanto os sentidos a ponto de tocar o desespero.
       Mas talvez eu tenha me consumido. Talvez tanto querer só aconteça uma vez... e eu tenha que me contentar com o simples, o morno e o seguro.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Óbvio

"Quem quer, sempre dá um jeito."
Então está claro que a gente já não quer tanto assim. Ou bem pouco. E cada vez menos.

Passageira

Foi por causa da história em quadrinhos que ela, a moça de volumoso corpo voluptuoso, sentou-se do seu lado. Era curiosidade mútua e muda, atração compreensível pelo que se identifica e considera belo. A leitora de HQs olhou de rabo de olho por cima da edição encadernada e por baixo da franja, sentiu-se confortável com o que viu: uma filha do final dos 70 ou começo dos anos 80 que escolheu ser "alternativa". A recém- chegada também olhou a leitora furtivamente mais de uma vez antes de ligar o celular para assistir clipes musicais... pensou-se em perguntar se o quadrinho era Sandman... sim, era. À direita, pensou-se em convidar para a leitura... mas como não parecer grosseira? À esquerda, David Bowie na capa de Aladdin Sane... uma escolha ululantemente intencional. O ponto próximo e ela, como chegou, saiu. Para a leitora, era o fim de uma boa história não compartilhada.


"One day though it might as well be someday
You and I will rise up all the way
All because of what you are
The Prettiest Star"
David Bowie, The Prettiest Star

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Boa noite, aparência.

     Boa noite, aparência. Os anos de boicote foram uma idiotice, para que apressar o que o tempo já faz tão bem e de graça? Mas eu tinha tanto medo e tanta vontade de ser verdadeiramente percebida que não via outra solução senão sufocá-la. E eu sufocava.
    Sufocava com esquisitice, palavrório, descuido, filosofia barata, religiosidade, literatura e história. Tudo em vão porque eu, por mais que me esforçasse, não era enxergada para além do que viam. Seus favores, eu preferia rejeitar e não me lembro como me convenci de que aceitá-los seria indigno. Bobagem!
     Agora que, lentamente como os grandes impérios, começa a declinar, sinto-me desamparada: é tudo que eu tenho de unicamente meu. E depois, o que eu faço?
     Boa noite, aparência... e, por favor, fique um pouco mais.