domingo, 28 de dezembro de 2014

Constatação

Está fechada, quanto tempo levou para curar, aí já não sei. Mas dessa ferida só ficou a cicatriz. Talvez seja necessária para lembrar, talvez seja necessária para minha escrita, mas certamente é uma marca feia de um passado que já se foi há tanto tempo,  mas que também prefiro não esquecer. 

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Pena

Que a pena tenha mais poder do que a espada, só é verdade para quem escreve para muitos há muito tempo. Mas eu, eu escrevo para poucos ou mesmo para ninguém, pois não tenho nome e nem minha mãe lê essas linhas escritas às pressas, jogadas em um suporte ultrapassado. Escrevo por teimosia e necessidade como gritos que ficam ecoando em uma frequência inaudível para qualquer ser humano. Escrevo porque as palavras germinam e deixo que brotem pelos dedos e,  assim,  elas não incomodam ninguém. Escrevo na esperança de me livrar de palavras incômodas, dessas que martelam dia e noite na cabeça,  antes e depois de serem ditas, antes e depois de serem escritas. Escrevo sendo impotente e medrosa: faltando-me força e coragem para brandir a espada, empunho a pena.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Calor

Calor. Calor insuportável. Há suor nos meus cabelos. Escorre suor pelas minhas pernas. Mesmo assim, parece que está tudo congelado aqui dentro. Desde meus sentimentos até minhas memórias. Nada mudou aqui dentro. Nada.
Quem sabe esse calor ainda me descongele. Tenho esperado por isso.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Uma ideia

Um poema daqueles do livro que não consegui terminar de ler. Daquele livro de poemas que falava de mulheres de tão longe, de lugar nenhum e de qualquer lugar, de tempo nenhum e de sempre. Mas não consegui ler todos. Talvez tenha faltado coragem ou era doloroso demais. Porque consoavam, ressoavam. Agora me deparo com um deles. A poeta fala sobre ser poeta, mas só sou capaz de me recompor em prosa.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Fluss

Transbordo. É que já não caibo em mim. Então transbordo me esparramando caudalosa. E pensaram mesmo que seriam capazes de me secar! Um e outro e chegaram perto de conseguir. Mas não. Drenaram tudo que eu era, sugaram tudo que eu tinha e sem motivo nenhum. Ou talvez tivessem algum, não sei. Na verdade sei sim: como é que pode uma mulher que enche,  preenche,  transborda? Não pode. E se alaga e mata um afogado? Ah, que eu alague o mundo comigo mesma, que se afoguem enfim.