domingo, 26 de abril de 2015

Paráfrase

Falam-me maravilhas do silêncio, penso que querem me matar: se silencio, sufoco o sujeito que sou, o verbo que me liberta, o complemento que dá sentido à vida.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Pitonisa

Às vezes, para mim, textos são oráculos. Pego um livro aleatório e abro uma página aleatória: o universo claramente transmite sua mensagem. Um consolo, um conselho, um soco no estômago. Da poesia ou da prosa tiro respostas e, em alguns dias, elas também me chegam sem que eu tenha perguntado.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Tempus transit

Era março e a neve já tinha derretido, mas ainda fazia frio. Dentro de mim havia sol e, não importa quão rigoroso tivesse sido o inverno, esse sol interno nunca deixou de queimar. Quanto a ele, sei que estava protegido na geada até eu chegar. E eu cheguei. Comigo, a primavera daquele ano e de nossas vidas.

Eu tinha completado 23. Ele, 22 - uma semana e meia antes da minha partida. E, nessa semana em que ele completa 30, ficamos os dois espantados com esse tempo que tem muita muita pressa de passar.

O tempo e sua espantosa relatividade... Tantas lembranças daqueles dois meses, mais outras tantas daquele outro ano, às vezes parecem ter sido um terço da minha vida. Mas foram só dois meses, foi só um ano. Muito mais do que relativo, o tempo é afetivo.

domingo, 19 de abril de 2015

16 de abril

Sou dessas e me apaixono por pequenos defeitos: são eles - e nunca as perfeições - que a memória evoca para formar imagens amadas quando fecho os olhos. Tantos e variados como um olhar de peixe morto, uma língua quase presa, uma gagueira leve, um nariz meio adunco ou meio grande demais, um vício de linguagem, uma certa aspereza nas mãos, uns dentinhos separados, um sorriso meio torto e/ou um riso que lembra um soluço. As outras pessoas podem até criticar - e criticam - esses detalhes, mas onde estaria o encanto se todos se agradassem das mesmas coisas?

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Não cabe no metro

Tantos epigramas tenho lido, a tantos lamentos amorosos tenho me dedicado nos últimos anos, nem imaginava que pudesse sentir esses versos na pele. Do desejo e do ressentimento por sua não consumação, a recusa pelos temas elevados, as invectivas. Não tenho escrito, mas sentido e vivido com tanto ardor que valem todo o conteúdo da Biblioteca de Alexandria.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Nuvem

Eis-me novamente, caída de uma nuvem que jamais pareceu segura. Tantas complicações, tantas palavras, tanto peso, ela jamais seria capaz de suportar. Agora é necessário recolher o que ficou de mim, mas dessa vez são poucos pedaços: essa nuvem nunca alcançou as alturas.

terça-feira, 14 de abril de 2015

Peleja II

Estou impedida de pensar: meu pensamento é assaltado por sentimentos violentos e, assim, fico inerte diante da fúria de sensações que não entendo. Torna-se uma guerra desequilibrada - tanto quanto eu, talvez? - acabo por me sentir impotente, totalmente sem energia para lutar. Tombamos, meu pensamento e eu. Os sentimentos, esses bárbaros, destroem e pilham tudo que era meu, restando de mim apenas ruína.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Bruxa

Tenho queimado lentamente na fogueira, talvez para purgar os pecados que, embora não tenha cometido, estão me consumindo por tanto desejá-los.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Um minuto?

Aqui estou novamente: carrego meu catálogo de erros e chamo de "histórias para contar". Ofereço a quem passa... há quem finja interesse. Volto para casa e não convenci ninguém.

sábado, 4 de abril de 2015

Fuga

Quero fugir, tento loucamente fugir, desesperadamente! Vivo nessa oscilação entre querer e controlar meu querer, entre resistir e desistir enquanto a vida simplesmente passa. Às vezes parece apenas que é a vida mesma que foge enquanto apenas fico para trás.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Mais para massinha

Em dias perdidos como esse, ociosos e inúteis, tento não pensar em como jogo minha vida pela janela. Há mesmo sempre a necessidade de produzir? Quando então serei capaz de agir acertadamente? Seguro as peças do quebra-cabeça e observo novamente até entender onde se encaixam. Seria fácil se a vida fosse feita de peças fixas como um quebra-cabeça, mas não é, nunca vai ser! Se não encaixo rápido, elas mudam de forma e preciso começar tudo de novo...

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Paciência

Acreditei não ser mais capaz, mas vibra aqui dentro novamente. Posso sentir no meu útero, na lembrança física da sua boca na minha, em tudo que há de mais secreto em mim. Mas tenho queimado inutilmente em uma paixão que não se consuma e mal sei como suportá-la.