Eu já não era tão criança para entender do que ele falava quando eu o encontrei pela primeira vez. Falava muito. Falava de uma mulher jovem e esguia em uma ponte. Falava de sua própria vaidade e me olhava nos olhos de um jeito desconfiado e confiante, as sobrancelhas arqueadas e um cigarro entre os dedos.
Era terrível como um soco no estômago tudo o que me contava: seco, certeiro e, parece-me, sem emoção alguma. Mas ele falava como se lesse o que havia de mais profundo em meus pensamentos, o que estava mais escondido.
Sonhei com esse olhar por anos.
Descobri que havia alguém de quem eu nada poderia esconder e não era Deus.