Prima a sabedoria extremo oriental pelo silêncio. Já a tradição semita se constrói na palavra: no início havia o verbo. E eu, que tenho o coração mais próximo dos antigos nômades do deserto, só sei trabalhar o mundo dessa forma: com palavras.
Elas escorrem pelos meus dedos e, unidas em sentenças, colocam ordem em fios emaranhados de pensamentos e sentimentos e lembranças. Ou: posso ouvi-las em minha própria voz enquanto elas se desfazem no ar. Uma após a outra... e muito do que eu não era capaz de entender torna-se compreensível.
No entanto, o silêncio tem o seu valor, naturalmente! Porque há palavras ditas somente para ferir e essas deveríamos silenciar. Mas, estranhamente, temos mais o costume de calar as palavras belas quando são verdadeiras. Por quê? As palavras belas e verdadeiras são a negação das armaduras: elas expõem o nosso melhor ao ataque ou ao desprezo e, muitas vezes, nosso melhor é bastante frágil. Mas não me importo muito com isso: o que um eventual ataque conseguir destruir, eu reconstruo... com novas e mais belas palavras.