E aí que não tenho conseguido me concentrar em nada útil... procuro me distrair há meses, nada muda. Não me distraio e também não produzo. Vontade de chorar dia e noite. Dia e noite. Leituras feitas às pressas, aulas que frequento, mas não ouço. E quando as ministro, sinto-me um autômato: "wie geht's DIR? Dativo... o caso do benefício, de quem RECEBE a ação." Recebe a ação... Talvez as pessoas também sejam regidas por um determinado caso. Sinto que o meu é o nominativo: "de qualquer forma quem volta sozinho para casa sou eu"...
Então me dou conta de que estou enfrentando o retorno de Saturno.
Passei um tempo mais perdida que João e Maria na floresta, mal sabia meu nome, mas parecia melhor. As pessoas me dizem "tenta não pensar, faz outras coisas, bola para frente" e não é o que tenho feito até agora? Será que alguma dessas pessoas sabe como é ter que recomeçar do zero com todas as suas desvantagens? O culto à juventude, o desprezo por quem escolhe seguir o coração, a desconfiança carregada por todo aquele que errou sem máscaras. Se é que é um erro acreditar e apostar em sentimento, se é que é um erro desistir de alguma coisa que está sempre lá para segurar a cauda de um cometa... No fundo, o erro é de quem não sabe valorizar a coragem de gente como eu.
Como se não bastasse a desconfiança dos ilustres desconhecidos, há a cobrança da família. Ou vice-versa. Falam-me de concurso, de banco, de parar de estudar e ganhar dinheiro. Como se fosse assim: você acorda, decide que vai ganhar dinheiro e plim! Tudo acontece como em um desenho animado. Eu gostaria muito que fosse assim, mas não é.
Eu aguentei o quanto pude, até admiro minha própria força! Mas agora estou acabada, estatelada como um ovo frito. Talvez eu devesse ter me permitido chegar ao fundo do poço antes, uma vez que o luto é necessário para sentir que a morte é real e não ter mesmo outra alternativa além do recomeço.
Eu só queria sentir que as pessoas se importam comigo também agora e não só quando eu pareço forte o suficiente para oferecer segurança e apoio quando elas precisam.
*Ouvindo "Piano Bar", versão original: Julio Iglesias me dava razão.