sábado, 22 de junho de 2013

Olhando para trás

     Um mundo entre velhinhas. Velhos são seus corpos, velhos são seus sonhos. Seriam as dores novas ou sempre estiveram lá? Aquele olhar brilhante e vazio de quem me perdeu no tempo. A procura de um bebê, uma mudança de casa, o cafezal, o fumo de rolo... e nada disso existe mais. O que existe é ritual terapêutico. As pernas que falham. A pele fininha. Desesperança. Às vezes me esqueço de que são frágeis, de que já não podem fazer o que eu posso. Ela não admite a perda de controle sobre as filhas e as situações, aos poucos, sobre si. Todas tão frágeis, tão frágeis, tão frágeis. Eram mais vigorosas do que eu sou hoje... como posso me esquecer tantas vezes de que são frágeis? Por que todos se  esquecem? Tenho sono e não consigo dormir na angústia de minha adolescência prolongada, mas elas dormem. Ou dormiam: uma delas é acordada por uma filha sem noção que resolve fazer uma visita depois das 23 horas! Quando ouço o barulho da porta, eu me assusto, pois tenho medo de uma fuga para o passado, mas a pseudofugitiva, essa sim, dorme ainda. Fico com raiva dessa visita! Por que ninguém percebe? Por que ninguém percebe antes que seja tarde? O que percebo agora é como tenho sido egoísta também.